segunda-feira, 24 de março de 2014

I'll be a Beautiful Angel

Finalmente, chegou a hora de falar sobre Dallas Buyers Club (O Clube das Compras de Dallas), essa valiosa aula de recitação.

Matthew Vs. Ron
Em primeiro lugar, a história verdadeira de Ron Woodroof poucos conheciam antes dele ser incorporado por Matthew McConaughey no filme desse ano. Ele realmente criou o Dallas Buyers Club depois de ter desistido do sistema de cura que a saúde pública dos EUA, regulamentada pela Food and Drug Administration (FDA), tinha planejado para o número crescente de pacientes com AIDS na década de 1980.
Conforme qualquer doença fatal ou muito grave, o processo para chegar em um tratamento minimamente satisfatório para essa doença imuno-deficiente demorou anos ou, como muitos diriam, ainda não chegou. Os interesses envolvidos são dos mais perigosamente poderosos: vida, dinheiro e o próprio poder de interferir com ambos. Embora personagem muito controversa, o Ron é, ainda hoje, lembrado pelo compromisso muito grande que teve com essa causa.

Depois que assisti o filme, do qual não tinha a mínima expectativa, nem muito conhecimento por ter sido ofuscado pelos colossos 12 Years a Slave e outros concorrentes do Oscar desse ano, me senti completamente transportada pela atuação incrível que logo se percebe ao conhecer os protagonistas desse longa. Seria muito redutivo dizer que o trabalho dos atores foi de qualidade porque eles perderam peso para interpretar o Ron e o Rayon. Mas, sim, eles perderam peso e, julgando pelo olhar, perderam também a esperança, a felicidade e tudo que deixa um ser humano sereno e confortável dentro de uma multidão social. 

Jared Leto como Rayon
Matthew McCounaghey e Jared Leto se prepararam muito bem e duramente para interpretar as duas personagens e nós espectadores sentimos o resultado dessa preparação em cada cena. Especialmente o Leto não está interpretando um transexual mas, primeiramente, um doente de AIDS que combate pela causa do Clube e contra a doença. Claro que o background da personagem é de complexa problemática por ter sido afastado pelo pai e ter contraído a doença pela vida promíscua de drogas e sexo que já fazia parte de um passado dilacerante de sofrimentos; mas a mensagem que a personagem me passou foi de que não importa que você seja preto, branco, mulato, gay, transexual, velho, jovem, casado ou solteiro. Em uma doença desse tipo todos esses aspectos são transcendidos pela impotência de viver em um mundo que continua rodando, mesmo enquanto você é doente terminal. E então, todos eles começam a se aglutinar e a fazer parte do mesmo capítulo da história. Rayon chega a voltar para pedir ajuda ao seu pai e faz isso com roupa masculina, doa o único dinheiro que tem ao Ron para não deixar o Clube morrer - mesmo que precise deste, ainda, para se drogar - vai ao hospital para morrer em silêncio; praticamente, é a alma do filme e da aglutinação deles todos.

Li um artigo do Steve Friess (TIME) no qual o jornalista escreve sobre seu total desacordo com o Oscar com o qual a Academia premiou o Leto pelo papel de Rayon. Ele afirma que, assim como a atriz Hattie McDaniel em 1940 ganhou o Oscar pelo papel de Mummy no E o Vento Levou somente por ser negra, hoje o Leto ganha o Oscar "somente" por interpretar um transexual. 

Para contestar o Friess, queria tocar dois pontos: o primeiro tem a ver com a integridade (ou a falta desta) na Academia; o segundo é sobre o que seria uma boa atuação. Começando com a Academia, acho, de fato, que esta é sujeita a julgamento moral primeiramente pela própria sociedade EUA mas que, se tivéssemos que seguir o raciocínio do Freiss (quem quiser entender melhor seu ponto de vista, é bom ler o artigo aqui), não deveria ter ganhado um ator """normal""" que faz o papel de um transexual e, sim, um ator transexual. Sobre a atuação di per se, me desculpem os seguidores de Friess, mas estou muito incline a definir o trabalho do Leto praticamente impecável. É emocionante, honesto e muito minucioso. Os olhares nos penetram como lâminas profundas no coração e, nos nossos mundos de hipocrisia intermitente, achamos super justificado cada furo de heroína que seu corpo aguenta. Quem deveria ter recebido o prêmio e foi desmerecido?

Aguardo comentários para saber se é mais fácil comprar a versão do Freiss ou a minha!

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