quarta-feira, 19 de março de 2014

Marcello, é solo un trucco!


Agora, voltando aos dias de hoje, decidi começar o blog com um filme que me emocionou, que me levou à reflexão, que despertou recordações e que, pessoalmente achei sensacional e, dessa vez, tem um "legítimo" título italiano: La Grande Bellezza. Foi um filme sofrido: vi ele aqui em casa com amigos numa versão baixada (c'est la vie...) e dormi mal. Depois das 12 horas, acordei com a sensação horrível que eu tinha rebaixado uma obra de arte ao nível de um seriado americano. Thank God consegui pegar uma sessão no Laura Alvim e recoloquei em jogo minhas espectativas. Depois de 12 horas não parava de pensar nele. Bom, além de ser um filme lindo, com uma fotografia fantástica e tudo que tem de melhor, o que mais me intrigou foi a homenagem muito bem pensada e feita à "La Dolce Vita". Se alguém tiver dúvidas já vai repensar:

A Personagem: Jep VS. Marcello

Claro que, em ordem de evidência, ia começar com o elemento mais trivial. Jep, assim como Marcello, é um escritor e jornalista que mora em Roma, gosta de mulher problemática e, no final, a única mulher que não "era para ser" e a mulher que mais terá importância na vida dele. Está procurando a quintessência da vida e da existência, é hedonista, o jeito de falar dele e cadenciado mas todo mundo o entende. Anda com as mãos nos bolsos e para no meio do nada para apreciar alguma coisa que os outros não veem, sobretudo algo que se relaciona à infância e à religião.

Falando em Religião:

Os elementos religiosos nos filmes de Fellini são sempre relacionados a um passado que não quer passar. E em Jep isso não é muito diferente, ele tem sempre uma relação tangente com as personagens do "sagrado" porém sem nunca entender a vocação e os segredos delas.

Outras personagens nos dois filmes:

As prostitutas, o amigo inseparável, os burgueses vazios, a nobreza decadente, a menina que o observa, os artistas, alguns do mundo circense, em La Grande Bellezza ele admira o vizinho que acaba sendo preso e em La Dolce Vita o Marcello admira o amigo que acaba se suicidando, no LGB a ex-namorada morre e o marido aparece destruído, no LDV o amigo morre e a mulher aparece destruída.

As cenas e as citações:

1.No "La Grande Bellezza", na cena da orgia de Botox, uma das madames que se faz injetar o veneno convida o médico para a "festa de divórcio dela" onde haverá dançarinas nuas. Em "La Dolce Vita" vemos, de fato, a cena da festa de divórcio com a própria dona de casa fazendo strip. 2.Depois de uma festa sem fim, o Marcello participa de um tour no castelo atrás de relíquias; depois de uma festa, também, sem fim, o Jep também faz um tour desse tipo indo atrás de belas obras de arte (OBS: os figurinos são IDÊNTICOS!) 3.Vários e vários giros noturnos de Roma (linda...) 4. O Jep acorda Ramona com o café da manhã na cama com as seguintes palavras "Vamos Ramona, acorda logo que vou levar você para ver um monstro marinho!", se referindo ao Costa Concôrdia, na última cena de "La Dolce Vita" vemos, de fato, todas as personagens ocupadas a ver um "monstro marinho" que foi pescado durante a madrugada. O Fellini baseava-se muito em fatos de crônica para ter idéias de cenas e cenografia e, no mesmo ano que estava preparando as filmagens, aconteceu o fato curioso de um peixe muito grande e desconhecido sendo pescado e de ter virado sensação jornalística.

Existem outras coisinhas menores que formam essa linda homenagem ao filme do Fellini e, outras talvez tanto importantes quanto, que esqueci ou que não reparei. Pelo resto, a essência do filme vou guardar comigo pois achei genial. Se alguém teve outras impressões sobre esse paralelismo, e já tiver passado das doze horas, pode compartilhar!

3 comentários:

  1. Muito bom o blog!!!Gostei muito do filme também!

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  2. Valeu Thiago! Ainda bem que o filme saiu num momento em que estava preste a desistir do cinema italiano!

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  3. Interessante... foi exatamente a minha experiência. Assisti de madrugada e com sono, adiantando algumas partes para terminar mais rápido. Achei meio chato, meio pretensioso, naquela noite. Mas no dia seguinte, fiquei intrigado e não parava de pensar no filme. Será que o havia julgado precipitadamente?

    Assisti novamente, durante o dia, com calma, e fiquei maravilhado.

    Que obra de arte sensacional.

    Fotografia primorosa, trilha sonora pra lá de interessante (a qual também acabei comprando, junto com o Blu-ray), cenas de pura poesia, misturadas com outras de surrealismo e críticas à alta sociedade decadente.

    Já assisti várias vezes desde então, e por vezes coloco o filme só para assistir à alguma cena memorável, como o passeio noturno pelos castelos de Roma. "Buona sera, principesse!"

    Ass: Rodrigo M.

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