sábado, 22 de março de 2014

Uma janela indiscreta sobre uma história infame

Queria muito me abrir sobre um filme que amei, Dallas Buyers Club, mas sinto que estou devendo ainda uma reflexão -forçada- sobre o Twelve Years a Slave; enrolar não vai mudar as coisas: o filme te estupra a alma.

Steve McQueen achou sensato nos subministrar mais de duas horas de agonia ao tentar nos relegar o papel de espectadores, na sombra da prisão que era a escravidão, e nos deixar impotentes de qualquer atitude, pois nós somos o presente que é um futuro muito longe do passado das barbarias que se foram. Nós não somos ninguém, quando Solomon agoniza pendurado com a corda no pescoço e com os pés na lama traiçoeira -e ficamos segundos que parecem minutos que parecem horas olhando para ele, em silêncio-, quando Patsy é chicoteada violentemente até os ossos por ter sido obrigada a sofrer os ataques sexuais de outro senhor, no lugar do seu. Nós ficamos passivos na escuridão chorando e querendo fugir como se o trem estivesse entrando na sala de cinema, pois tudo que a gente vê é muito mais verdadeiro e real que o próprio trem chegando no trilho. 

Sim, do meu ponto de vista o McQueen conseguiu brilhantemente nos deixar completamente na lama da miséria humana. Foi uma tentativa muito bem sucedida de relembrar do legado que temos com a nossa natureza de bestas. 


Embora eu prefira mil vezes mais o estilo do Tarantino (nada a ver falar dele agora!) com o Django, há de se reconhecer a qualidade desse filme, suprema. Achei a fotografia muito escura, complementando o objetivo do filme, e a trilha sonora bem colocada nos momentos que precisavam. O silêncio desolador da cena do enforcamento do Solomon é de arrepiar.

Um comentário:

  1. Só para deixar registrado: depois que saí do cinema, odiei; depois das 12 horas, amei.

    ResponderExcluir