quinta-feira, 20 de março de 2014

Von Trier-maniac

A loucura do Von Trier já não é mais grande segredo. Sabe muito bem disso quem já teve a ousadia de se aventurar na longa-metragem Antichrist, filme que o Lars decidiu escrever e rodar numa época de depressão. Acho que, quem ainda não viu esse filme, já pode imaginar do que se trata com essas poucas palavras.

Mas hoje já se passaram mais de 12 horas da segunda vez que tive a chance de assistir Nynphomaniac 2, daí vem algumas observações sobre ambos os capítulos desse último filme do mais controverso cineasta dinamarquês. Cuidado, minha gente, pois, como para todo filme que será aqui descongelado e desossados depois das 12 horas de hibernação, esse post terá um conteúdo altamente spoiler e, portanto, só continuem ler os que JÁ VIRAM as duas partes do filme. Eu avisei.


Como aprender uma aula com Nynphomaniac

A primeira parte do filme chocou alguns. Eu não sei dizer se me tocou nesse sentido. Talvez, depois de 12 horas comecei achar bem "transgressivo" mas sem ter me perturbado por isso. É um prólogo para o segundo e mostra, com as palavras da própria Joe, o quanto e o como a sua vida sempre foi focada na sexualidade e que ela nunca conseguiu discernir a sua sexualidade com o resto dos aspectos da vida. É um conto que achei bem dramaticamente divertido. Achei que o Von Trier quis que a gente risse mas daquele riso bem irônico. Afinal, a Joe não consegue ter uma vida satisfatória por mais que ela tente.


Expiação em Nynphomaniac 2
Para a segunda parte do filme, Nynphomaniac 2, eu teria o resumo em uma palavra: expiação. A Joe parece ter noção de que, tudo que está acontecendo de "errado" nessa fase adulta da sua vida é como se fosse o preço que está pagando por ter tido uma sexualidade completamente fora de qualquer padrão. A divisão em capítulos é quase um roteiro dantesco que consegue achar sempre um final inusitadamente expiatório para cada estória. Até a última cena na qual ela confessa ao Seligman que ele talvez seja o único amigo que ela já teve e, logo depois, ele tenta ter uma relação sexual com ela, é triste e frustrante. Von Trier ao entrar na alma humana, tenebrosa e pungente, mais uma vez mostra que o principal perigo não está fora de nós; que alguns conseguem conviver com tudo, outros não, e outros passam por um longo processo de expiação, como já aparece em Dogville, Europa e Melancholia entre outros. O tiro que a Joe dá no Seligman a deixa, porém, novamente sozinha à mercê da própria mania. Confesso que fiquei muito mais que 12 horas pensando na última cena. Me tocou de uma forma que, mais uma vez, não parei de pensar "o Von Trier é um doente".

Sobre a técnica do longa, eu sou, e aqui eu vou admitir uma vez por todas, uma grandíssima fã das escolhas do Von Trier: gosto dos cortes, da luz, do som. E a imagem que mais gostei do filme foi uma linda fotografia que vemos no capítulo "The Gun" quando a Joe encontra a própria árvore; são duas imagens, uma dela bem pequena com a arvore contornando o perfil e a seguinte dela e da árvore uma contra a outra, como se enfrentando. Se eu achar as imagens, as colocarei. Se alguém achar antes de mim, compartilhe por favor! 



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